quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Nossa Imaginação não cabe num orçamento

Alguns filmes contam histórias felizes, outros mostram atos heróicos, outros contam fatos comuns, e um monte deles somente te entretem.

Essas não são as funções do Filme NOSSA VIDA NÃO CABE NUM OPALA (2008) do diretor Reinaldo Pinheiro , o filme tem como objetivo mostrar a ruína, o limite, o ponto imediatamente anterior do desabamento catastrófico de uma vida, a tensão anterior à ruptura da corda bamba. Se havia equilibrista na corda? Não interessa, quem seja, cada um cairia de um jeito, mas o impacto é comum e inevitável.

Ácido e cru, como toda boa digestão, mostra os processos gástricos de ruptura da vida, quebra da gordura dos sonhos, emulsificação de famílias e histórias, que se aglutinam e se dispersam, com a mesma facilidade de quem está imerso na mesma mediocridade.

A história tem o pretexto de contar o desabamento e os conflitos de uma família após a morte do patriarca, porém a presença deste ao longo dos acontecimentos, seja por mentalização dos filhos ou por aparição póstuma, mostra as tensões comuns no relacionamento entre Pai e filhos. A presença mais marcante é a do personagem de Jonas Bloch, que se mostra o grande responsável pela ruína de quatro irmãos, que tem laços e passados em comum, mas anseios diferentes de futuro, e que nunca tiveram como referência o apoio mútuo.

O único grande problema do filme é técnico, não sei se por falta de orçamento, o som direto do filme, aquele que é captado no momento da fala do ator, não possui filtro, é baixo, é inaudível. Não sei se foi a cópia que veio para a cidade de Brasília, onde resido atualmente, mas acredito ser um problema do filme, pois os outros efeitos sonoros estão perfeitos, porém, quando o ator expressa-se verbalmente, dois segundos antes de sua fala, aparece o som do chiado da captação de ambientes abertos, e o som vem imerso em distorção. Isso incomoda, não tanto quanto o próprio filme.

Destaque para Marília Pera que ilustra em uma participação que dá origem a várias interpretações, como toda grande atriz, e aos palavrões de Dercy Gonçalves que estão muito bem encaixados no contexto da trama. Maria Luísa Mendonça com um texto quase padrão e com diversas interpretações do mesmo, levando-me às gargalhadas no cinema vazio, e para a edição do filme, elaborada e seca, alternancias conforme a necessidade do roteiro.

Se não tiver jantado, se aguentar as mazelas do pensamento humano, se aguentar a ruína e a mesquinharia, vá assistir ao filme, e se questione, em situações iguais àquelas, Qual é a dimensão que realmente te delimita? Sua vida também caberia num opala?