Muito foi lido e escutado sobre o filme Obrigado por fumar (Thank You For Smoking - 2005), de Jason Reitman. Comentários falando de sátira e cinismo em favor dos pulmões, porém, eu teci uma diferente concepção e é ela que apresento nesse facho de luz.
Iniciando este blog que tem por obrigação esportiva, iluminar outros cantos do cenário principal, para ver se construímos algo ou enxergamos diferente do que o foco central, penso um pouco sobre as questões abordadas nesse filme.
O filme fala da liberdade individual de escolha de uma forma tão sutil, porém tão presente nas argumentações de Nick Naylor (Aaron Eckhart), que a vontade de acender um cigarro enquanto assistía o filme foi suprimida pelo contexto maior, que é a forma como a lei se impõe, ou tenta impor, seus padrões a todos os cidadãos.
O ponto em que isso é descortinado, é o momento em que a professora da classe solicita que os alunos escrevam duas páginas sobre o tema "porque os EUA são a melhor forma de governo existente", ou algo desse tipo, grandioso e ignorante, quando ensinado as crianças,e perigoso, quando reproduzido na legislação.
Não importa a sua vontade de fumar, não importa se você deseja aquele feto, não importa sua sagacidade para os jogos, no meu estado você não pode abortar, jogos de azar estão fora e cigarros, somente se você vir o estado degradante que ele deixa no seu pulmão ou até mesmo uma caveirinha de perigo, típica dos piratas.
A moral pseudo-cristã (acostumem-se com os pseudismos nesse blog) dita uma regra de comportamento ainda muito forte nas cláusulas e parágrafos que regem o código de ética. Impor a vida àqueles que vivem sabendo como gastá-la, pois fato é que todos nos a gastamos diariamente.
Na viagem de carro junto com o filho (Cameron Bright), indo subornar o antigo homem malboro, Nick Naylor diz ao seu filho que o seu trabalho poderia ser feito por qualquer um que tivesse a "moral flexível", e essa é a chave central do filme. A flexibilidade de garantir qualidade e bem estar aos fumantes, deve ser a mesma que garanta aos não-fumantes a vida e o direito de levar ao caixão um pulmão intacto. E esta minha frase não se resume somente ao cigarro.
Iluminando em outro ponto, o filme também propõe a ganância dos barões do tabaco, que exigem campanhas que influenciem o consumo do cigarro, aumentando assim a produtividade da industria.
Porém a definição de Nick Naylor a reporter interpretada por Kate Holmes de que ele seria uma espécie de diplomata da industria do tabaco junto a sociedade que luta pela diminuição do fumo se torna clássica quando a absorvemos para cada um de nós. Todos somos embaixadores das nossas vontades equilibrando nossos atos pelo que é divulgado em campanhas anti ou pró, regulamentados por leis desatualizadas. Cabe a nós as responsabilidades e as consequencias, e que estas não venham ser ditadas por letras escritas à tinta em papiros ultrapassados.
Este filme mostra a necessidade de uma sociedade mais abrangente, que saiba ouvir a todos os argumentos, antes de criticar por conceitos inadequados e pré-estabelecidos, quaisquer que sejam os atos.
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